
Da direita pra esquerda: os irmãos Maria Vitória, Pedro Henrique, Gabriel (embaixo), Vitor (de laranja, embaixo), Miguel (de azul, embaixo) e Ana Julia | Pedro Ladeira/Folhapress
O reencontro com seus cinco irmãos -três
crianças e dois adolescentes- arrancou um sorriso largo de Ana Julia
Silva Santana, 11, em um abrigo na Cidade Ocidental, a 42 km de
Brasília. Há quase dois anos, a menina foi separada dos demais após eles
serem adotados por um casal que vive em São Paulo.
Ela chegou a ter sinais de depressão. "Eu estava
muito triste porque vivia longe deles", diz. Com autorização judicial,
Ana Julia foi morar com os irmãos, de 5 a 15 anos, no dia 26 de julho,
em Ribeirão Pires, a 40 km de São Paulo, na mesma casa onde eles moram
desde outubro de 2017.
Um ano depois, a adoção foi formalizada. Naquela
época, a menina acabara de deixar o abrigo para morar com seu pai
biológico, o operador de máquina Pedro Antônio Santana, 64. Ela é a
única do grupo que tem o pai identificado.
Maus-tratos e abandono fizeram os seis filhos serem
afastados da mãe biológica, não localizada pela reportagem. As denúncias
começaram em 2015.
Desde que foram separados no Orfanato Rebecca Jenkins, Ana Julia mantinha apenas contato virtual com os irmãos.
"A gente, às vezes, se via por chamada de vídeo, mas
era muito ruim porque sentia falta de brincar e dar um abraço", conta
ela, depois de receber um abraço coletivo de Maria Vitória, Pedro
Henrique, Miguel, Gabriel e Vitor, os irmãos por parte de mãe.
Os cinco irmãos de Ana Júlia voltaram para Cidade
Ocidental com os pais adotivos, a gestora social Veranilda de Oliveira
Guimarães, 51, e o aposentado Adalberto Franco Guimarães, 57, para o
reencontro e retornarem com ela para Ribeirão Pires. "A melhor coisa é
ter todos os irmãos da gente por perto. Sentia muita saudade de brincar
com a minha irmã", diz Pedro, 12.
Segundo o pai biológico, Ana Julia ficava muito
tempo fechada dentro do quarto, sozinha. "Longe dos irmãos, ela foi
abatida por uma tristeza profunda, ficava arredia e não conseguia se
alegrar de forma alguma", diz ele, que não tem contato com a mãe das
crianças. "A única saída que encontrei foi deixá-la ir morar com os
irmãos dela por parte de mãe, porque quero o melhor para ela. Dói demais
ver triste um filho da gente."
O pai biológico assinou uma autorização judicial
para a menina passar a morar com seus cinco irmãos em São Paulo, sob a
guarda do casal. A intenção, diz ele, é que filha viva bem, mas sem
romper o contato com seus familiares de Cidade Ocidental.
"Nossa família só aumentou. Espero que você seja
muito feliz", disse o pai, antes de dar um abraço de despedida na filha e
ouvir a promessa dela de não esquecê-lo.
Para a mãe adotiva, o gesto do operador de máquinas
foi nobre. "Mesmo com as crianças morando conosco, não quero apagar o
passado delas. Criaremos todas sabendo de onde vieram, e elas precisam
saber que antes fizemos de tudo para que alguém da própria família
biológica as pegasse para cuidar."
Segundo o juiz da comarca de Cidade Ocidental, André
Nacagami, o caso mostra a viabilidade de novos modelos familiares. O
Brasil tem 9.500 crianças e adolescentes na fila de adoção, segundo o
cadastro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
"A adoção tem que ser trabalhada não como um direito
de quem adota, mas como um direito de quem vai ser adotado", afirma
Nacagami. "No caso de irmãos, a lei preconiza casais ou pessoas que
queiram fazer adoção do grupo para que não o dividamos."
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